Entre os meses de dezembro e janeiro, a sinistralidade decorrente das chuvas cresce sete vezes no ramo de automóvel e três vezes no residencial

Por Elaine Lisbôa para JCS Sincor SP – Matéria Janeiro/2016.

O início do ano costuma deixar milhares de pessoas em situação de alerta por conta da chuva. São famílias que sabem o que é tentar recuperar tudo o que se perdeu depois de ter seus bens levados ou danificados pela água. Segundo a Defesa Civil, somente na cidade de São Paulo existem 105 mil famílias que vivem em 407 áreas de risco, perto de córregos, encostas ou morros. Compondo esse número temos a Zona Sul, com 176 áreas, seguida da Norte, com 107, Leste, com 100, e Oeste, com 24.

Já no litoral norte de São Paulo, foram mapeados 100 pontos com riscos de inundações e deslizamentos de terra em períodos de chuva, regiões onde vivem mais de 2 mil famílias [veja outras regiões no gráfico.

A percepção geral é de que, por serem áreas próximas a córregos e encostas, estejam situadas favelas, mas, segundo o corretor de seguros e coordenador da Comissão de Riscos Patrimoniais do Sincor-SP, Nelson Fontana, não é esta a realidade.

“Temos bairros com problemas crônicos como, por exemplo, as redondezas do estádio do Palmeiras, próximos ao Metrô Barra Funda, em São Paulo, que tradicionalmente alagam nos dias de chuvas fortes e são ocupadas por lojas e residências de classe média, cujos moradores demandam estas coberturas”, explica Fontana.

Entretanto, naturalmente, as seguradoras condicionam a vistoria prévia do local para aceitação do risco de inundação e desmoronamento. “Esse período de fortes chuvas é cíclico e, inevitavelmente, faz parte da precificação do seguro, mas nossa análise é regional e não considera áreas de riscos específicas, quando se trata das coberturas envolvendo esses fenômenos”, completa o diretor de Sinistros da Tokio Marine Seguradora, Alexandre de Souza Vieira.

Entre os meses de dezembro e março, Vieira aponta que o volume de sinistros decorrentes desses eventos cresce sete vezes no ramo de automóvel e três vezes no residencial.

Falta de Seguro Residencial

Os moradores de regiões de risco encontram dificuldades para contratar um seguro para as residências. Fontana comenta que as seguradoras, aliadas aos dados obtidos em inspeções, não estão disponibilizando coberturas contra inundação e desmoronamento na maioria desses imóveis.

“No entanto, temos registros de indenizações pagas pelas companhias. De maneira geral, se referem a locais que não possuíam histórico de sinistros repetitivos na área, nem aparentavam gravidade perceptível nas vistorias, mas um conjunto de fatores levou à ocorrência naquele local segurado, o que chamamos de risco eventual”, considera o coordenador.

Intervenção do governo

Para minimizar o impacto das chuvas junto à população, algumas prefeituras do Estado de São Paulo aderiram a um plano preventivo do governo chamado “Chuvas de Verão 2015/2016”, lançado no início de dezembro do ano passado. O programa traz auxílio nas áreas de limpeza, para contribuir no escoamento da água, com serviços de coleta de lixo e limpeza de bueiros e bocas de lobo; investimentos em drenagem, com a canalização de córregos; podagem de árvores; acompanhamento de equipes da CET nas regiões onde houve bloqueios de vias, com remoção de veículos em situações de risco e restrição de circulação; retirada de pessoas de áreas de risco; além de comunicação sobre o impacto e efeitos das chuvas.

Fontana acredita que esse tipo de ação traz resultados em locais onde o risco não é recorrente, mas nas regiões onde ele é certo, são necessárias iniciativas mais efetivas, com obras que demandam investimento. “A Prefeitura de São Paulo sabe que não tem recursos para eliminar os riscos e nem para desocupar os locais, muito menos que eles serão minimizados por ações simples como limpeza. Essas prevenções podem ser muito eficazes – e existe um histórico de graves danos que foram causados por desleixo – em locais que possuem risco eventual, mas onde ele se repete a cada ano, seriam necessárias ações mais efetivas envolvendo obras caríssimas”, pontua o coordenador. O problema desse investimento, segundo ele, é que beneficiaria poucos moradores, o que torna o projeto discutível, já que seriam utilizados recursos públicos em grande escala para proteger apenas alguns moradores. “Claro que estamos falando de riscos patrimoniais, porque a Prefeitura sabe que tem que zelar pela vida daqueles moradores”, completa.

Seguro de Auto

A aceitação da proposta do seguro de automóvel também está sujeita a análise de risco, mas é recorrente entre as companhias. O coordenador da Comissão de Automóvel do Sincor-SP, Salvador Edison Jacintho, explica que a principal negativa de sinistros é o calço hidráulico, que é o enchimento da câmara de combustão com líquido, o que causa a quebra de componentes internos do motor. “Essa ocorrência acontece normalmente quando o segurado passa em trechos alagados que estejam com profundidade maior do que a altura do meio do pneu.

O problema é que os corretores de seguros acompanham com frequência essas ocorrências, principalmente nos grandes centros onde são mais frequentes”, destaca. Para Vieira, da Tokio Marine, os segurados ainda são pouco cautelosos em relação aos riscos. “Eles acabam caindo sempre nas mesmas armadilhas todo ano, apesar das orientações disponíveis. No entanto, o número de ocorrências vem se mantendo estável.

Os corretores de seguros conhecem as regras de aceitação das seguradoras e orientam os clientes”. Para Jacintho, a iniciativa do governo é um bom começo, mas as pessoas não podem esquecer o seu papel. “Toda ação é válida para mitigar os problemas da cidade. Ações preventivas como retirar moradores de área de risco, limpeza de esgotos etc são atribuições exclusivas do poder público e, sem dúvida, contribuirão para a sociedade, mas neste período a conscientização de todos contribuirá para que os riscos sejam minimizados”, conclui.